terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Três milhões sem esgotos tratados


Três milhões de portugueses não têm os seus esgotos tratados e mais de 25 por cento continua sem acesso à rede de esgotos. Estes números constam do Relatório do Ambiente do Instituto Nacional de Estatística (INE) relativo a 2006, o qual já mereceu críticas da Quercus, que considera os “dados pouco claros”.
O Relatório do Ambiente do INE revela que parte das águas residuais continuam a não ser tratadas em Portugal Em 2006, Portugal investiu 444 milhões de euros em infra-estruturas de drenagem e tratamento de águas residuais, menos 30 milhões do que o dinheiro aplicado no fornecimento de água à população. Segundo o relatório do INE – cujos dados são provisórios – só 69,4 por cento dos portugueses tem acesso ao tratamento de esgotos e 74,3 está ligado à rede.

No mesmo documento, pode ler-se que seis por cento das águas residuais, de um total de 502 milhões de metros cúbicos contabilizados, não é tratada.

Francisco Ferreira, vice-presidente da associação ambientalista Quercus, aponta o dedo aos dados constantes no relatório do INE, dizendo que “merecem um melhor esclarecimento, pois são pouco claros e induzem em erro”.

Numa leitura mais desatenta do relatório do INE, segundo Francisco Ferreira, pode ficar-se com a ideia de que Portugal tem estado a atingir as metas estabelecidas. “Portugal não tem cumprido os objectivos traçados. O primeiro Plano Estratégico de Abastecimento de Água e Saneamento de Águas Residuais (PEAASAR) devia assegurar em 2006 o tratamento dos seus esgotos a 90 por cento da população e ficámos muito longe disso, com apenas 69,4. A meta foi, entretanto, adiada para 2013 com o PEAASAR II”, disse ao CM, acrescentando: “Quando se diz, no relatório, que seis por cento das águas residuais não é tratada, não será bem assim. Os valores são bem mais elevados, porque existe uma fatia importante da população, cerca de 25 por cento, sem acesso à drenagem pela rede de esgotos. Isto também são águas sem qualquer tratamento”.

A Quercus põe em causa os valores relativos à origem da captação de água apresentados no relatório. Segundo o documento, a água captada tem origem maioritariamente subterrânea (55 por cento do total). “Existe uma diferença entre os valores do INE e os dados do Instituto Regulador de Águas e Resíduos”, diz Francisco Ferreira, concluindo com um apelo: “Os dados estatísticos sobre ambiente, especialmente no que diz respeito aos recursos hídricos, pela sua importância, merecem um cuidado especial. É fundamental que exista uma maior coerência entre os dados apresentados nos diferentes relatórios”.

In Correio da Manhã

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