sábado, 2 de fevereiro de 2008

Emergência médica reduzida apenas a dois helicópteros

Um dos helicópteros pesados comprados pelo Estado que começou ontem a operar vai deixar de fazer a esmagadora maioria dos serviços de emergência médica que prestava durante a noite.

O Kamov baseado em Santa Comba Dão foi substituir o Bell que nos últimos quatros anos funcionou em permanência para a Autoridade Nacional de Protecção Civil (ANPC) e dispunha de uma equipa de emergência médica durante a noite, que fazia essencialmente transporte de doentes graves entre hospitais. Esta é, contudo, uma tarefa que lhes está vedada, já que não faz parte da listagem de missões atribuídas pelo despacho que declarou o aparelho aeronave do Estado.

O Ministério da Administração Interna não esclareceu o PÚBLICO sobre o tipo de serviços que os novos helicópteros vão poder fazer. O presidente da Empresa de Meios Aéreos, Rogério Pinheiro, afirmou laconicamente por e-mail que serão "os serviços previstos na Declaração de Aeronave de Estado". Um porta-voz do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) afirmou que não comenta a situação e adiantou apenas que aguarda informações da ANPC. Além deste aparelho existem apenas mais dois do INEM.

No despacho que declarou os Kamov aeronaves de Estado fala-se em missões de socorro e assistência aos cidadãos, precisando-se que estão aqui integradas "o transporte de equipas de socorro e assistência", "evacuações de emergência de vítimas de catástrofe ou sinistros" e "busca de pessoas em terra e meio aquático". Segundo a EMA, os Kamov podem fazer o transporte de sinistrados entre o local do acidente e o hospital. Mas este tipo de socorro só representa uma pequena parte do serviço feito pelo helicóptero baseado em Santa Comba Dão.

Quando o PÚBLICO quis saber em que heliportos hospitalares os Kamov poderiam operar, Rogério Pinheiro escreveu apenas "a EMA sabe quais são os heliportos [sem referência aos hospitalares] onde o Kamov pode aterrar à noite. Aqueles em que tem dúvidas estão a ser alvo de avaliação e, em caso de dificuldade, definidos locais alternativos".

Esta limitação não é a única dos Kamov. Os seis helicópteros pesados comprados pelo Estado terão dificuldades em fazer a primeira intervenção, uma das principais apostas introduzidas por este Governo no combate aos incêndios florestais. Isto porque o balde colocado no aparelho que transporta 4500 litros de água, pesa quase 280 quilos e, por isso, demora cerca de 15 minutos (segundo a EMA) a ser montado no teatro de operações. Além disso há que contabilizar os 15 minutos que o helicóptero demora a descolar com a tripulação e a brigada composta por nove bombeiros. Mas ainda falta contar o tempo da viagem. Somando tudo, quer dizer que os bombeiros e o aparelho podem estar no teatro de operações cerca de 40 a 50 minutos depois de dado o primeiro alerta, um tempo exagerado para o designado "ataque inicial".

Foi esta situação que levou os responsáveis operacionais da ANPC a decidir recentemente utilizar os Kamov no ataque ampliado a incêndios florestais. Obrigou igualmente o Governo a recuar na compra de aviões pesados e no aluguer de dois dos aviões pesados previstos para este ano, apenas uns dias depois de o presidente da EMA ter garantido que os concursos estavam quase a ser lançados.


In Publico

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