quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Carnaval: aldeia de Campia cumpriu tradição com gato de peluche

A aldeia de Campia, em Vouzela, cumpriu hoje a sua tradição carnavalesca de uma forma diferente: a palha ardeu, o púcaro de barro caiu do topo do mastro, partiu-se e, no chão, ficou imobilizado um gato... de peluche.

Uma mensagem que circulou na Internet, relatando o que dizia ser "uma tradição primitiva e cruel que serve apenas para divertir uns quantos sádicos", em que era usado um gato verdadeiro, levou este ano a organização a decidir fazer esta alteração.

"Os organizadores caçam, roubam um gato, algures, e metem-no num cântaro onde fica fechado até à hora da festa. Depois, no largo da festa, está um grande mastro ladeado de lenha, o cântaro é elevado por cordas até ao cimo do mastro, a seguir lançam fogo à lenha que aquece o cântaro, queima as cordas e o cântaro cai desfazendo-se em cacos", contava a mensagem da polémica, acrescentando que "o gato (se ainda puder) corre espavorido, tendo à perna a parolada toda a persegui-lo com paus para ver quem lhe acerta".

Carlos Duarte, da organização dos festejos carnavalescos de Campia, lamentou a polémica gerada em torno desta tradição, que terá mais de cem anos e que "quase sempre se fez com gatos".

"A tradição sempre existiu e pode continuar a existir, porque nunca se matou gato nenhum", garantiu, contando que, há 15 anos, até usou um gato seu, que regressou a casa sem problemas.

Negou que as pessoas fossem atrás do gato para lhe bater com paus, contando que apenas um homem mascarado - chamado de "burro das turqueses" - simulava que o tentava agarrar.

No entanto, e "para não alimentar polémicas", a organização decidiu este ano não usar um gato verdadeiro, mas o de peluche.

Carlos Duarte admitiu ser defensor desta tradição e questionou se será pior para um gato ficar uma hora dentro de um púcaro de barro ou "fazer uma viagem de avião de oito horas" dentro de uma gaiola.

Na mensagem era pedido que esta fosse passada "ao maior número de pessoas" e que fosse enviada "uma crítica a quem tem culpas desta prática: o presidente da junta, que é um dos organizadores, o presidente da Câmara que concorda, o padre que abençoa a festa e todos os que vêem, calam e consentem".

Os três visados anunciaram de imediato que iam apresentar uma queixa-crime por difamação contra o autor de uma mensagem.

O presidente da Câmara, Telmo Antunes, esteve em Campia a assistir aos festejos carnavalescos e reiterou aos jornalistas que esta polémica terá sido levantada por uma pessoa insatisfeita por a autarquia estar a avançar com a construção da variante de Cambarinho.

Contou que já recebeu "mais de uma centena de emails provocatórios", com críticas que diz nada terem a ver com direitos dos animais, nomeadamente envolvendo a sua família.

O autarca frisou que esta actividade "não é licenciável" e sublinhou que não é responsável por tudo o que se passa no seu concelho.

In Publico

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