domingo, 3 de fevereiro de 2008

O tiro que matou Eduarda era para militares da GNR


Os chumbos da caçadeira desfizeram o crânio de Eduarda e quem disparou foi Cláudio Camacho. Não há dúvidas para o Ministério Público. Mas o alvo seriam dois militares da GNR. E sem intenção de executar a refém, o crime de homicídio está excluído na acusação. É por isso que, já dia 14, os três assaltantes das bombas de gasolina de Benavente começam a responder por roubo agravado pelo resultado – a morte de uma inocente. Arriscam até 16 anos de cadeia.
Além do assalto à gasolineira de Benavente, vão responder por outros crimesEduarda Ferreira fechava as portas ao posto de abastecimento quando a filha Alexandra a foi buscar, na noite de 6 de Abril do ano passado. Pelas 20h55 já Cláudio Camacho e João Oliveira calçavam as luvas. Só Luís Coutinho deixou as mãos a descoberto. Enfiaram os gorros, caçadeiras em punho. E bateram com os punhos cerrados no vidro da porta. Canos bem apontados às cabeças de mãe e filha. Eduarda abriu logo.

Amarraram as vítimas na casa de banho com braçadeiras de plástico e correram para a caixa. Sacaram tudo. Faltava o cofre. A funcionária jurou que não tinha a chave – foi logo ameaçada de morte. Arrancaram-lhe um anel e a aliança da filha só não saiu por estar apertada.

A 15 metros da porta acendiam-se os pirilampos da GNR – dois militares no jipe depois de alguém ter visto os assaltantes a entrar. Cláudio foi buscar Alexandra por um braço mas Eduarda implorou para que a levassem a ela. O bandido aceitou. Levou-a para a rua, caçadeira apontada à cabeça. Um soldado atirou duas vezes para a porta da loja, mas só João Oliveira recuou. E Alexandra, em pânico, gritava: “Mãe!”

“Perante os disparos”, lê-se na acusação, Cláudio apontou aos militares e “premiu o gatilho, não obstante encontrar-se na sua linha de fogo Eduarda Maria Ferreira”. A refém, 43 anos, caiu morta. E a GNR recuou – Cláudio e Luís escaparam. Só João ficou para trás mas tinha um trunfo. Alexandra serviu de escudo. Largou-a e pôs-se em fuga – mas a GNR montou-lhes uma armadilha e caíram uma semana depois. Foram presos no dia 14.

A acusação por roubo agravado é “a correcta”, diz ao CM fonte ligada ao processo. “Sem intenção, não há homicídio voluntário – o negligente, mesmo grosseiro, dá até cinco anos”. Já o roubo agravado pelo resultado, a morte, é punível entre os oito e 16 anos de cadeia.

In Correio da Manha

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