domingo, 3 de fevereiro de 2008

Carnaval custa três milhões


O palco está montado para os três dias de folia. De Norte a Sul do País, o Carnaval sai amanhã para a rua – mesmo sem a ajuda do S. Pedro – e a dose repete-se terça-feira. Os principais desfiles vão custar cerca de três milhões de euros – valor idêntico ao de 2007. Refira-se, a título de exemplo, que o valor de um carro alegórico varia entre os 15 e os 45 mil euros e um boneco fica por 4500. Uma cabeça, como a de Sócrates que Torres Vedras vai exibir, custa à volta de 1500 euros
Os tempos são de crise, mas os organizadores dos grandes carnavais não se pouparam a esforços para proporcionar três dias de festa aos milhares de foliões de Norte a SulMais ambiciosos, mais tradicionais ou mais brasileiros, em todas as regiões haverá carnavais, com um denominador comum: a piada sobre políticos e políticas, sobre os usos e costumes.

250 QUILÓMETROS DE LINHA

Em contra-relógio o artista plástico dá os últimos retoques no boneco do Zé Povinho, generosamente espremido pelo ministro das Finanças, Teixeira dos Santos. Mas há mais para soltar gargalhadas. E se um porco conduzisse os carros da ASAE? Não é uma situação real, apenas retratada num carro alegórico (de nome ASAI), que deverá ser motivo de muito riso no Carnaval de Loulé, um dos mais antigos do País.

A máquina carnavalesca algarvia trabalhou a grande velocidade desde Novembro e todos os carros alegóricos e figurantes estão a postos para três dias de grande animação. “Está quase tudo pronto, só faltam pormenores”, diz Palhó, um artista plástico, no intervalo de uma pincelada de cola. A seguir olha para o boneco do primeiro-ministro a levar um puxão de orelhas do Presidente da República e ri. “Este ano a cabeça do Sócrates é mais pequena, mas chega bem para a festa.”

No total são mais de 60 mulheres a fazer flores e 40 homens, entre carpinteiros, ferreiros, cenografistas e artistas plásticos. “Tudo estará pronto à hora do corso”, garante Maria Júlia Guerreiro, costureira, que há 20 anos imagina as vestimentas para o festa carnavalesca de Loulé. Este ano consumiram-se 250 quilómetros de linha para coser os fatos. “Foram necessários 50 rolos. Como cada um tem cinco mil metros é só fazer as contas”, diz a costureira. Quem não precisa da ajuda das profissionais da costura para se vestir são as bailarinas brasileiras, que dão um verdadeiro espectáculo de dança, quase despidas, só com uma reduzida tanga. Este ano há um carro dedicado ao Brasil, com os ritmos quentes do samba. Também África, Índia e Egipto estarão representados no desfile. “Se não chover vai ser uma grande festa”, diz Júlio Guerreiro, à frente da festa louletana há duas dezenas de anos. “Há uns anos fizemos um cartaz com um guarda-chuva aberto e choveu copiosamente. Nos anos seguintes fechámos o guarda-chuva no cartaz e nunca mais caiu água”, recorda.

SEIS EUROS A PLUMA

Na Mealhada, longe vai o tempo em que os fatos eram feitos com recurso a agulhas e dedal. Hoje, as costureiras, ou aderecistas, como preferem ser chamadas, munem-se de uma pistola de cola quente para dar corpo ao brilho e esplendor dos emplumados trajes carnavalescos. “Não podia ser de outra forma. Usamos a menor quantidade possível de pano, porque o que realmente dá cor e beleza aos fatos são as plumas, as lantejoulas e as pedras”, conta Catarina Trindade, 29 anos, uma das aderecistas da Escola de Samba Mangueira, campeã do Carnaval da Mealhada 2007, que completa 30 anos nos seus moldes modernos – com um actor brasileiro convidado para rei. “Aqui toda a gente trabalha. Eu venho sete dias por semana, das 21h30 à 01h00, depois de ter estado todo o dia na minha loja de pronto-a-vestir”, salienta Catarina Trindade. “Um esplendor pode levar centenas de plumas, algumas delas de faisão, que custam 6 euros cada, e não demora menos de uma semana a acabar. Já as cabeças são mais rápidas, duas ou três noites, e recebem centenas de pequenas lantejoulas e pedras, tudo preso com cola”, explica.

PRÉMIO PARA MASCARADOS

Uma festa para a família. É esta a imagem de marca do Carnaval de Buarcos/Figueira da Foz, que espera 40 mil visitantes. “Queremos promover a cidade como destino turístico e neste evento temos as famílias como público-alvo”, diz Ana Redondo, administradora da Figueira Grande Turismo. Além do desfile oficial – que contará com 700 figurantes –, são esperados milhares de mascarados. “As pessoas gostam de se mascarar e, no conjunto, proporcionam um desfile carnavalesco não oficial, mas muito divertido”, adianta a responsável. Os mais criativos, mais animados e mais bem trajados serão premiados.

300 MIL FOLIÕES

“Homem que é homem veste-se de mulher segunda à noite em Torres Vedras. E quem não o fizer fica com a sua masculinidade mal vista”, conta Sérgio Lopes, da empresa municipal Promotorres, que espera receber 300 mil foliões. Este ano o tema é a banda desenhada e para a sua concretização foi montado na Av. 5 de Outubro, Lisboa, um monumento de homenagem às principais figuras da BD (‘Homem-Aranha’, ‘Batman’ e ‘Super-Homem’, que se juntam a outros 32 nomes grandes do quadradinho).

Porque é Carnaval e ninguém leva a mal, o 85.º desfile de Torres aposta forte na sátira política para a composição dos carros. Sem avançar qual o sentido das piadas, Bruno Melo assegura que o primeiro-ministro, o ministro das Finanças e o líder do PP estarão retratados. E, como é tradicional, não vão faltar centenas de matrafonas: homens de barba rija que se aguentam – dentro do possível – em cima de sapatos de senhora com saltos de 20 centímetros.

In Correio da Manha

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